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segunda-feira, 29 de junho de 2020

TEREMOS PROVAS

Aceitar Jesus como seu Salvador e decidir segui-lo são duas das melhores decisões que você tomou em sua vida. No entanto, ser um seguidor de Jesus não significa que você nunca enfrentará problemas, provações ou aflições.

De fato, a Bíblia nos ensina que, em nossa caminhada temporária nesta terra, experimentaremos todos os tipos de dificuldades. Por exemplo, o rei Davi disse que "Os bons passam por muitas aflições, mas o Senhor os livra de todas elas." (Salmos 34:19). O próprio Jesus disse: “No mundo vocês vão sofrer; mas tenham coragem. Eu venci o mundo.” (João 16:33). E ambos, Davi e o próprio Jesus, testemunharam o poder da proteção de Deus em meio a situações muito turbulentas.

Sei que provavelmente não é o que você deseja ouvir, mas não podemos viver pensando que, porque vamos à igreja ou porque lemos a Bíblia, estaremos de alguma forma imunes à dor neste mundo. Vamos enfrentar perdas como qualquer outra pessoa: empregos, família, amigos, saúde. Então o que faz a diferença?

A grande diferença são as promessas de Deus às quais podemos nos apegar no meio da crise. Por exemplo, dessas duas passagens, podemos extrair duas promessas de Deus:

  1. Estarei com você no meio da provação.
  2. No devido tempo te tirarei dessa situação.

Portanto, nesses momentos de histeria coletiva, ansiedade e desesperança, confie que Deus não o abandonou. Confie que Deus está com você na sua situação atual. Acredite que haverá um tempo em que você olhará para trás e poderá agradecer por esta crise pela qual está passando, porque será o instrumento para que sua confiança em Deus seja purificada.

Oração: 

Senhor, reconheço que há muitas coisas além do meu controle que me entristecem. Você os conhece. Eles não são uma emergência para você. Você tem tudo sob controle, incluindo meu bem-estar, o de minha família e minha comunidade. Lembre-me que você está comigo e que, no devido tempo, você vai me tirar da tempestade. Amém.

segunda-feira, 22 de junho de 2020

Amor para com todos


Pr. Luiz César Nunes de Araújo


O apóstolo Paulo vem descrevendo com muita coerência a ética do comportamento cristão. A lição anterior enfatiza o amor no seio da comunidade cristã. O amor é o grande princípio normativo dessa ação. Na comunidade do povo de Deus cada crente é chamado para efetivar o amor ao próximo por meio de ações. A partir do versículo 14, Paulo mostra que esse princípio do amor cristão deve aplicar-se abarcando também o mundo exterior. Deus amou o mundo (Jo 3.16), isto é, a humanidade inteira; espera-se dos crentes a mesma amplitude de amor. 

Uma clara demonstração do amor de Deus pode atrair as pessoas para o reino do Salvador. "Quando ainda estávamos sem forças, Cristo morreu a Seu tempo pelos “ímpios”. Deus recomendou o Seu amor para conosco quando ainda éramos “pecadores”, e isso foi demonstrado pelo fato de que Cristo morreu por tais pecadores. (cf. Rm 5.6, 8). Nisso percebemos o princípio divino do amor em operação, que se baseia em si mesmo, e não no objeto amado. O amor é um princípio fixo da natureza divina, não é algum benefício que opera somente em favor dos objetos que lhe são agradáveis. Deus achou por bem amar, e assim amou ao mundo. O amor de Deus, entretanto, é um poder transformador que pode modificar completamente o objeto amado.” (Champlin)


Vejamos o que, à sombra do amor de Deus, podemos investir nas outras pessoas e em nós mesmos.


I. Abençoai os que vos perseguem (Rm 12.14)

“Em Cristo encontrai o possível no impossível; levai à morte o ressentimento da natureza humana, deixando tudo aos pés de Cristo, no hálito de seu amor.” (Moule)

Se a esperança cria largueza de coração para com os perseguidos, também cria a capacidade de amar e bendizer os próprios perseguidores. O mandamento do Senhor é amar e bendizer os nossos inimigos e perseguidores (Mt 5.44). Nas promessas das bem-aventuranças, Jesus fala da reação correta em relação à perseguição (Mt 5.10-12). Pedro igualmente ordena que evitemos a vingança e que abençoemos os que nos injuriam. Abençoar é uma atitude bastante condizente com os filhos de Deus. Os que não são do Senhor têm facilidade em maldizer as outras pessoas. 

Algumas vezes as crises pelas quais passamos podem nos levar a um sentimento de vingança em relação às pessoas que nos prejudicam. É aí que se percebe a diferença de estar em Cristo: o mesmo sentimento que Nele habitou deve estar em nós (Fp 2.5). “Ter a boca cheia de amargura é uma das grandes características dos homens não regenerados, o que de forma alguma convém àqueles que proferem o nome de Cristo” (John Gill).

É bom que cada um reflita no que tem falado a respeito das autoridades, dos líderes religiosos e das pessoas ao redor. Cada um de nós deve aprender a falar bem a respeito dos outros (Tg 3.9-12).


II. Alegrai-vos com os que se alegram e chorai com os que choram (Rm 12.15)

“Não convém a nenhum crente aspirar ambiciosamente aquelas coisas mediante as quais poderá ultrapassar a outros, e nem lhe convém assumir uma experiência exaltada e altiva; bem pelo contrário, compete-lhe humildade e mansidão.” (João Calvino)

Paulo fala na graça cristã da empatia, que é a capacidade de se identificar com a outra pessoa, de sentir o que ela sente (Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa, 2002).

Quanto mais a pessoa vai se tornando parecida com Cristo, mais se deixará mover de empatia com outras pessoas. A largueza de coração criada pela esperança cristã torna o homem sensível às alegrias e tristezas dos outros em geral.

Crisóstomo nos adverte que é mais fácil chorar com os que choram do que se alegrar com os que se alegram. Porque é comum à natureza humana chorar pelos que sofrem, contudo, podemos cair no pecado da inveja ao vermos uma pessoa obtendo sucesso. No entanto, quem ama ficará sempre feliz com a alegria da pessoa amada.

“Quanto mais egoísta formos, tanto menos inclinados à empatia seremos. Em contrapartida, quanto mais altruístas formos, tanto maior será a nossa empatia por nossos semelhantes.” (Champlin)

Esforcemo-nos por possuir a mente compassiva e cheia de empatia. Que nosso coração se deixe tocar pela aflição alheia!


III. Tende o mesmo sentimento uns para com os outros (Rm 12.16)

“Unidade é o compartilhar incondicional de nossa vida com os outros membros do corpo de Cristo.” (R. J. Sider)

A edição da Bíblia revista e corrigida (ARC) traduz o v.16 da seguinte forma: “Sede unânimes entre vós”. De fato, Paulo está focalizando a necessidade de harmonia entre os irmãos. A harmonia é um dos resultados naturais do amor, da mesma forma que a dissensão, os conflitos e a confusão são resultados perfeitamente naturais do orgulho e da vaidade.

A harmonia entre nós é produzida pela operação amorosa do Espírito Santo, a qual produz todo o seu fruto em nós. As relações harmoniosas então devem ser buscadas e mantidas no seio da comunidade cristã (Rm 15.5; 2Co 13.11; Fp 2.2 e 4.2). O próprio Senhor Jesus nos informou que a nossa unidade é um meio eficaz para o testemunho cristão (Jo 17.23).


IV. Condescendei com o que é humilde (Rm 12.16)

“A humildade é a base de toda a virtude, e aquele que desce mais é quem edifica com maior segurança.” (Philip J. Bosley)

Cada crente deve identificar-se com os demais. Não pode haver distinção que promova a divisão do corpo de Cristo. É bom lembrar que os romanos, para quem primeiramente foi endereçada essa carta, tinham escravos. Quão difícil deve ter sido para alguns indivíduos destacados se misturarem e tratarem como iguais aos escravos de sua casa! Cristo trouxe uma nova ordem, pois em Sua família o prestígio social não mais distingue os filhos.

O crente deve se deixar atrair também por pessoas de menor influência na igreja. Não se deve privilegiar a quem tem uma melhor posição social e intelectual. Este é um sinal de uma igreja sadia: os irmãos de classes sociais distintas convivendo com igualdade e amor (At 2.42-44).

Os títulos e a aristocracia de alguns irmãos mais privilegiados deviam ficar fora do convívio da comunhão cristã (Tg 2.1-9).

“Rebaixai-vos à condição de humilde, andando ou caminhando ao lado deles; não sendo humilde tão somente na atitude mortal, mas ajudando-os igualmente, e estendendo a mão para eles.” (Crisóstomo)


Aplicação

Procure observar se os irmãos de condição mais humilde de sua igreja têm sido acolhidos pelos demais. Tome você mesmo a iniciativa dessa tarefa.


V. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos (Rm 12.16)

“A coisa trivial, a tarefa comum, fornecerá tudo quanto devemos pedir: ocasião para negarmos a nós mesmos, um caminho que nos leve cada dia mais perto de Deus.”  (Keble)

O apóstolo Paulo orienta que o amor cristão elimine o orgulho e a presunção. O nosso modelo é o Senhor Jesus, que Se humilhou, antes que fosse exaltado (Fp 2.2-5). O próprio Jesus foi quem disse: “aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração” (Mt 11.29).

É um perigo para o cristão começar a se comparar com os seus irmãos e julgar-se melhor. Muitas vezes, os que querem se mostrar “mais espirituais” são os mais orgulhosos e quase nunca aceitam a orientação de seus líderes. O final é sempre a queda espiritual e a divisão da igreja.


“Temível é aquela atitude mental, possível até mesmo para o homem de propósitos espirituais mais intensos, que supõe que nada mais tem para aprender.” (Champlin)

O cristão não deve se ensoberbecer, pois Cristo convoca para amar e o amor não ensoberbece (1Co 13.4). Pelo contrário, se há algum motivo para se gloriar, é no Senhor (Sl 44.8; Jr 9.24; Rm 5.11, 1Co 1.31; Gl 6.14).


Conclusão

Admoestações à unidade, humildade e compreensão compassiva e advertência contra o orgulho não estão fora de propósito quando se fala da tribulação presente e da esperança que triunfa sobre a tribulação; as palavras de Paulo à igreja de Filipos, que experimentava aflições, o demonstram (Fp 1.29-2.4; cf. 2.14-18; 4.2). A tribulação que atinge a todos e o prospecto do mesmo martírio não garantem por si só união e humildade na igreja atribulada. Realmente, Romanos 12.16-17 parece ser um comentário do pensamento expresso em Filipenses 4.5: “Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens”. Paulo roga aos cristãos de Filipos que deixem todos ver neles, tanto amigos como inimigos, a igreja perseguida, o comportamento digno de reis, que advém da consciência que se tem da própria força. A força da igreja reside em sua esperança. Paulo apresenta o motivo e a dinâmica para esta serena moderação nas palavras: “Perto está o Senhor” (Fp 4.5).

O amor no seio da comunidade cristã


Pr. Luiz César Nunes de Araújo


Nós, os cristãos, enquanto aguardamos a volta de Cristo, temos deveres sociais e éticos, os quais são como parâmetros para nosso comportamento. Fazemos parte da sociedade e temos que exercer influência sobre ela. A igreja de Roma, destinatária do texto sagrado que estamos estudando nas lições 3 a 6, vivia num clima hostil ao evangelho. Eles deveriam, no entanto, exercer a vida cristã ativamente, brilhando no meio das trevas (Rm 13.11-14). O que determina o nosso proceder não é o sistema ao nosso redor, mas os critérios claros descritos na palavra de Deus (Rm 12.2). 

Nos pontos que se seguem, Paulo mostra mais cinco diretrizes para que o nosso comportamento seja como o verdadeiro fruto de nossa fé.


I. Alegrai-vos na esperança  (Rm 12.12)

“Antes, santificai a Cristo, como Senhor, em vosso coração, estando sempre preparados  para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós”. (1Pedro 3.15)

Paulo fala constantemente aos romanos sobre o tema da esperança (Rm 4.18; 5.2; 5.5; 8.24; 12.12 e 15.13). Talvez já os estivesse preparando para um futuro difícil. A alegria da esperança dos crentes ajuda-os a suportarem as cargas das reivindicações que se seguem: sofrimento, paciência, hospitalidade, perseguição e choro. Só quem mantém uma esperança viva em Cristo pode passar com alegria pelos caminhos citados. Martin Franzmann nos ensina que a esperança é um subproduto do amor. Paulo une os dois (1Co 13.7; Cl 1.4-5). Diz Franzmann: “A esperança cristã não apenas dá coragem e resistência em aflições prolongadas (v.12); mas dá ao cristão aquela largueza de coração que o torna receptivo às necessidades de seus ‘irmãos na fé’”. A esperança cria a capacidade de amar e bendizer os próprios perseguidores (Rm 12.14; Mt 5.44). 

Embora haja o sofrimento presente, o cristão se alegra nas promessas de Deus com esperança, e a finalidade da esperança é a redenção de nossa alma. “A expectativa do cumprimento de nossa fé enche-nos o coração de júbilo, a despeito das circunstâncias externas e das condições negativas que vez por outra afligem a vida de todos nós” (Champlin). Alegria e ânimo nos são proporcionados quando contemplamos, pela fé, a concretização de nossa esperança espiritual em Cristo.


II. Sede pacientes na tribulação (Rm 12.12)

“Porque os olhos que choraram e sofreram serão para sempre diferentes de todos os outros olhos.” (Rubem Alves)

A esperança cristã nos dá coragem e resistência em aflições prolongadas, que exigem paciência.

As perseguições e as tribulações podem redundar em benefícios para os crentes (At 14.22), bem como para o evangelho (Fp 1.12-14). É no sofrimento que entendemos quanto somos dependentes da graça de Deus (2Co 12.10). Nas tribulações, crescem as pessoas, as famílias, a igreja e a nação. Esses grupos tomam um propósito de unidade em meio ao sofrimento. A tribulação nos torna conselheiros sábios e experimentados (1Co 1.3-5). A tribulação pode ajudar a nossa purificação espiritual, livrando-nos de pecados e imperfeições (2Co 7.10); Jesus nos deixou o exemplo (Hb 2.10; 5.8). Em todas as formas de tribulações, entretanto, precisamos ter paciência, sabendo que a tribulação promove a paciência, que a paciência forma o bom caráter, e este, por sua vez, gera esperança. E na esperança não somos confundidos (Rm 5.3-5 e Tg 1.2-4).


III. Perseverai na oração (Rm 12.12)

“Não importa quão grande seja a pressão. O que importa, na verdade, é onde está a pressão: a pressão separa você de Deus ou empurra-o para mais perto de Deus? Você está sentindo uma forte pressão hoje? Está começando a ficar deprimido? Quando você estiver orando, hoje, tire o fardo de suas costas,  e coloque-o nas costas de Deus. Ele sabe como lidar com os fardos. Ele tem cuidado de você! Transforme esse momento tranquilo de devoção numa experiência que liberta pressões.” (Hudson Taylor)

As aflições normalmente levam o crente a orar mais. No entanto, quando não desenvolvemos a paciência na oração, dificilmente perseveramos na sua prática.

A combinação sofrimento, paciência e oração já fora citada antes por Paulo (Rm 8.18, 25 e 26) e aparece sempre no contexto de esperança cristã. Os crentes devem ser perseverantes na oração, pois é em oração que eles encontram consolo para as suas tribulações (Ef 6.18; Fp 4.6).

Paulo vinha exaltando as graças cristãs, e todas elas estão arraigadas à oração e nela se desenvolvem. “As qualidades em que o apóstolo confiava que distinguiam os cristãos só podem ser sustentadas por meio de uma dependência constante e consciente de Deus. À parte da oração desconheceremos o sentido da alegria, não compreenderemos a paciência” (G. R. Grogg).

Uma vida transformada tem a oração como um instrumento crucial para o seu comportamento cristão.

Quando surgem as aflições, geralmente oramos, mas muitas vezes não perseveramos nesse intento. A continuação na oração é uma necessidade, devemos “orar sem cessar” (1Ts 5.17).

Esse exercício contínuo da oração é coerente com a vida cristã disciplinada e exaltada pelo apóstolo Paulo (1Co 9.26; Fp 3.14; 2Tm 2.3‑5). Também o escritor aos Hebreus naturalmente pensa sobre o corredor que, no estádio, esforça-se por alcançar o prêmio (Hb 12.1).


IV. Compartilhai as necessidades dos santos (Rm 12.13)

“A esperança cristã não apenas dá coragem e resistência em aflições prolongadas,  mas, também, dá ao cristão aquela largueza de coração que o torna receptivo às necessidades de seus irmãos.” (Martin Franzmann)

Segundo Paulo, os crentes têm uma responsabilidade social com os demais irmãos na fé, especialmente em tempo de tribulação. O apóstolo conclamou os gálatas a fazer o bem, especialmente aos da família da fé (Gl 6.10). O próprio Paulo estava muito ativo em levantar uma oferta para os santos pobres em Jerusalém (Rm 15.26). João, semelhantemente, ressaltou a providência para as necessidades dos irmãos (1Jo 3.17). Tiago confirma esse princípio (Tg 2.15-16). A marca mais alta do amor cristão é o amor aos irmãos. Jesus disse: “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35).

Isso não significa que os cristãos devam se preocupar socialmente apenas com os cristãos. A Bíblia está repleta de evidências de que os crentes devem fazer o bem a todos os homens. A solicitude social dos cristãos deve começar com sua própria família (1Tm 5.8; 1Ts 4.11,12) e com os outros crentes, mas não deve terminar aí (1Tm 6.18; Mt 25.35-46 e Gl 6.9-10).

Muitas igrejas, para dar seguimento a essa orientação bíblica, têm criado ministérios que organizam e incentivam a assistência aos santos. 


Aplicação

Sua igreja tem assistido aos santos? Sua igreja tem se estruturado para essa tarefa? A orientação é bíblica!


V. Praticai a hospitalidade (Rm 12.13)

“Não se esqueçam da hospitalidade; foi praticando-a que, sem o saber,  alguns acolheram anjos.” (Hebreus 13.2)

A hospitalidade é uma forma especial de prestar assistência aos santos, especialmente a cristãos exilados, perseguidos ou desabrigados.

Desde o princípio do cristianismo, essa qualidade vem sendo considerada como um dos deveres importantes de fé (Hb 13.2; 1Tm 3.2; Tt 1.8 e 1Pe 4.9).

“Muitos dos crentes viviam como estrangeiros no mundo, distantes de seu país nativo, algumas vezes enfrentando circunstâncias hostis. A hospitalidade nestas condições tornava-se uma importantíssima manifestação de amor cristão” (Champlin). O que Paulo está dizendo é que a hospitalidade não deve apenas ser fornecida, mas perseguida. A melhor tradução seria “persegui a hospitalidade”. É bom lembrar que Paulo diz a Timóteo que os líderes têm uma obrigação maior de praticar a hospitalidade (1Tm 3.2); ainda que seja um mandamento para todos os crentes.

Cabe aqui uma palavra de alerta: muitos crentes e igrejas, no propósito genuíno de cumprirem esse mandamento, têm sido vítimas de falsos cristãos que lhes causam grandes prejuízos. É necessário muito cuidado. Sejamos simples como as pombas, mas astutos como as serpentes (Mt 10.16) para cumprir esse mandamento sem colocar em risco os familiares e demais pessoas. Na dúvida, a liderança da igreja deve ser consultada. 


Conclusão

Estamos diante de mandamentos que enfatizam o comportamento ético cristão; mandamentos que só podem ser obedecidos se a nossa vida estiver entregue incondicionalmente no altar do Senhor (Rm 12.1). 

Fazendo assim, demonstraremos uma natureza transformada e autenticidade na comunhão com Deus, e muitas pessoas conhecerão melhor o Senhor, observando nosso comportamento verdadeiramente cristão (Mt 5.13-16).

Ética do comportamento cristão


Pr. João Arantes Costa 


Iniciamos esta lição com Provérbios 26.18-20: “Como o louco que lança fogo, flechas e morte, assim é o homem que engana a seu próximo e diz: Fiz por brincadeira. Sem lenha, o fogo se apaga; e, não havendo maldizente, cessa a contenda”. 

Paulo começa a seção ética de sua carta aos Romanos com a excelência do “culto racional” e da diversidade dos dons espirituais que devem estar a serviço da igreja. Entre os dons espirituais e os degraus do comportamento cristão, exatamente no começo de Romanos 12.9, ele coloca a pedra angular da ética cristã: “o amor seja sem hipocrisia”. O amor, que é realmente o princípio governante da vida cristã, é mais do que uma emoção, e é de natureza mais firme do que mero sentimentalismo ou pura filantropia. Salomão poetiza esse amor sem hipocrisia, dizendo: “Põe-me como selo sobre o teu coração, como selo sobre o teu braço, porque o amor é forte como a morte, e duro como a sepultura, o ciúme; as suas brasas são brasas de fogo, são veementes labaredas. As muitas águas não poderiam apagar o amor, nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor, seria de todo desprezado” (Ct 8.6-7). A partir do “amor sem hipocrisia”, vêm os degraus da ética do comportamento cristão, que vamos estudar em lições seguintes. Nesta lição trataremos de seis desses degraus.


I. Detestai o mal

Detestar o mal é o mesmo que odiá-lo. Paulo usa várias vezes a palavra “fugir” para significar a repulsa que o cristão deve ter das coisas que são más (1Co 6.18; 10.14 e 1Tm 6.11): “Tu, porém, ó homem de Deus, foge destas coisas”. Carlyle, escritor cristão, comentando esse texto, diz: “O que necessitamos é ver a infinita beleza da santidade, e a infinita maldição e o horror do pecado”. O apóstolo João, em sua primeira epístola, coloca esse “detestai o mal” da seguinte maneira: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo2.15).


II. Apegai-vos ao bem

O verbo “apegar” sugere um desejo intenso de apropriar-se de alguma coisa. O salmista assim se expressa: “Ó Deus, tu és o meu Deus forte; eu te busco ansiosamente; a minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, como terra árida, exausta, sem água.” (Sl 63.1). 

O comportamento ético do cristão é uma busca constante e intensa do que é bom. As palavras usadas por Paulo são firmes: “detestai” e “apegai”. Elas podem ser ilustradas com dois versos de Colossenses, como veremos a seguir.


1. Detestai

“Agora, porém, despojai-vos, igualmente, de tudo isto: ira, indignação, maldade, maledicência, linguagem obscena do vosso falar. Não mintais uns aos outros, uma vez que vos despistes do velho homem” (Cl 3.8 e 9).


2. Apegai-vos

“Revesti-vos, pois, como eleitos de Deus, santos e amados, de ternos afetos de misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade” (Cl 3.12).

Tudo isso nada mais é do que empurrar para longe de nós o mal e abraçar de corpo e alma o que é bom, o que edifica.


III. Amai-vos cordialmente uns aos outros

Devemos ser afetuosos uns com os outros em amor fraternal. A palavra “cordialmente” é que qualifica esse amor.  “Seja constante o amor fraternal. Não negligencieis a hospitalidade, pois alguns, praticando-a, sem o saber acolheram anjos” (Hb 13.1-2). 

Esse degrau do comportamento ético do cristão é um dos muitos mandamentos da mutualidade. O amor cordial é recíproco: “uns aos outros”. Dentro da igreja não somos estranhos; muito menos unidades isoladas. Somos irmãos, porque temos o mesmo Pai. A igreja não é um clube onde as pessoas se associam; nem simplesmente uma reunião de amigos. A igreja é a família de Deus. A reciprocidade no amor é a marca mais visível no corpo de Cristo.


IV. No zelo, não sejais remissos

O descuido da vida cristã acarreta sérios problemas. O cristão não pode tomar as coisas de qualquer maneira. O nosso cotidiano é sempre uma alternativa entre a vida e a morte. O tempo é curto e a vida terrena é uma preparação para a eternidade. O profeta Jeremias exorta-nos: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor relaxadamente!” (Jr 48.10). Costuma-se dizer que o cristão pode abrasar-se, porém nunca oxidar-se. Jesus, em carta à igreja de Laodiceia, exorta: “Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te” (Ap 3.19).


V. Sede fervorosos de espírito

William Barclay, comentando esse degrau da ética do comportamento cristão, diz: “Devemos manter nosso espírito sempre em alta. Espírito fervoroso é espírito que transborda em amor por Deus e pelo próximo. Ilustra-se esse fervor com uma vasilha de água fervendo no fogo”. Foi exatamente nessa dimensão que Jesus advertiu a igreja de Laodiceia: “Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem deras fosses frio ou quente! Assim, porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca” (Ap 3.15-16). O que se requer do verdadeiro cristão é que ele seja “fervoroso de espírito”. Isto é, uma pessoa entusiasmada e apaixonada pela salvação das almas e pela santificação da Igreja.


 VI. Servindo ao Senhor

Quem serve ao Senhor, está servindo ao seu próximo, e quem serve ao seu próximo está servindo ao Senhor. Jesus coloca esse assunto da seguinte maneira: “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt 25.40). O salmista, no hino de ingresso ao templo, declara: “Servi ao Senhor com alegria”. Esse sentimento deve ser constante no serviço cristão. O crente deve ter prazer no que faz servindo no reino de Deus. Por isso mesmo, aconselha o apóstolo: “Portai-vos com sabedoria para com os que são de fora; aproveitai as oportunidades” (Cl 4.5). “Quem não vive para servir, não serve para viver”.


Conclusão

Elisabeth Gomes, em seu livro “Ética nas pequenas coisas”, diz: “Deus espera de Seus filhos pecadores e redimidos pelo sangue de Jesus um padrão de excelência em tudo. Deste lado da glória não atingiremos perfeição no sentido de não pecarmos, mas somos aperfeiçoados a cada dia, à medida que nos achegamos Àquele que cumpre em nós o querer e o realizar”. 

A vida cristã é uma experiência que se renova a cada dia em nosso relacionamento com Deus e com o nosso próximo. 

Na carta aos Romanos, Paulo diz: “Fomos, pois, sepultados com ele na morte pelo batismo; para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também andemos nós em novidade de vida” (Rm 6.4). Esse “andar em novidade de vida” implica:

1. Detestar o mal;

2. Apegar-se ao bem;

3. Amar cordialmente uns aos outros;

4. Não ser remisso no zelo pelas coisas de Deus;

5. Ser fervoroso de espírito;

6. Servir ao Senhor com alegria.


Para encerrar esta lição, reflitamos a respeito dos seguintes temas.

1.      A semelhança de Deus: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai celeste” (Mt 5.48).

2. O exemplo para a igreja: “... vos tornastes o modelo para todos os crentes” (1Ts 1.7).

3. O espelho dos fiéis: “Sê exemplo dos fiéis, na palavra, no trato, no amor, na fé, na pureza” (1Tm 4.12).

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Princípios bíblicos de ética cristã


Pr. João Arantes Costa 


Na primeira lição desta série, procuramos fixar um paralelo entre a doutrina bíblica e a ética cristã. Com isso ficou claro que uma não pode subsistir sem a outra. Não podemos ter doutrina sem ética e ética sem doutrina. Paulo, no texto básico desta lição, tenta mostrar que a mente humana está fixada em alguma coisa. É uma lei da vida que se um homem pensa em algo com frequência, chegará o momento em que não poderá desejar outra coisa. Por isso é importante que o cristão pense em coisas dignas. Aos colossenses escreveu o apóstolo: “Portanto, se fostes ressuscitados juntamente com Cristo, buscai as coisas lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do alto, não nas que são aqui da terra” (Cl 3.1 e 2).


A esta altura, é bom fazermos uma distinção entre costumes e princípios.


1. Costumes são procedimentos culturais e ocasionais

Os fariseus chegaram a Jesus e lhe disseram: “Por que transgridem os teus discípulos a tradição (costumes) dos anciãos? Pois não lavam as mãos, quando comem” (Mt 15.2). Lavar as mãos antes de comer é costume de higiene pessoal.


2. Princípios são procedimentos estabelecidos por Deus

São eternos, inalteráveis e inegociáveis. Pedro e João testemunharam diante do Sinédrio que o princípio da salvação está em nosso Jesus: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At 4.12).


Na ética há costumes e há princípios. Como já vimos, os costumes podem variar de acordo com o contexto cultural e profissional, mas os princípios não. Vejamos como Paulo trata desse assunto de princípios. Em Filipenses 4.8, que é o nosso texto-chave, ele estabelece esses princípios.


I. Tudo o que é verdadeiro

O primeiro princípio da ética cristã é, sem dúvida alguma, a verdade. No mundo há muitas coisas ilusórias e enganosas. Prometem o que jamais podem realizar. Paulo destaca esse princípio quando exorta os efésios, dizendo: “Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo”(Ef 4.15). Por faltar com a verdade, Ananias e Safira receberam o castigo máximo de Deus: a morte (At 5.1-11).


II. Tudo o que é respeitável

A versão de Almeida antiga usa “tudo o que é honesto”. A Bíblia de Jerusalém usa “tudo o que é nobre”. Respeitável, honesto, nobre, se confundem no texto original. Quando isso se aplica ao homem, descreve alguém que vive como se todo este mundo fosse templo de Deus. Isto é, a sua vida no mundo é idêntica à sua vida no templo de Deus. No mundo há coisas triviais, baratas, atrativas e superficiais. O cristão deve fixar a mente nas coisas que são profundas, sérias e dignas.


III. Tudo o que é justo

O termo grego dikaios define o homem justo: o que dá a Deus e aos homens o que é devido. Em outras palavras, dikaios é a palavra de dever assumido e realizado. Há quem coloque o pensamento nos prazeres do mundo, esquecendo-se totalmente dos seus deveres para com Deus e para com a sociedade. 


O profeta Habacuque condena a quebra do princípio da justiça com os cinco “ais” decretados.


1. “Ai daquele que acumula o que não é seu”.

2. “Ai daquele que ajunta em sua casa bens mal adquiridos”.

3. “Ai daquele que edifica a cidade com sangue e a fundamenta com a iniquidade!”

4. “Ai daquele que dá de beber ao seu companheiro, misturando à bebida o seu furor”.

5. “Ai daquele que diz à madeira: Acorda! E à pedra muda: Desperta!” (Hc 2.6-20).


IV. Tudo o que é puro

A palavra grega usada para puro descreve o que é moralmente limpo e livre de mancha. No ritual do Antigo Testamento, a palavra descreve algo purificado de tal maneira que se faz apto para ser oferecido a Deus em holocausto e para o Seu serviço. Quando Deus ordenou a Páscoa para o povo hebreu, Ele disse: “O cordeiro será sem defeito (sem mancha), macho de um ano”(Êx 12.5). Por exemplo: quando estabelece em 1Timóteo 3 o perfil do líder espiritual, Paulo começa dizendo: “É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível”. Esse é um princípio que não pode ser alterado no que costumamos chamar de “A ética do obreiro”. Basta ler com atenção o Salmo 24: “Quem subirá ao monte do Senhor? O que é limpo de mãos e puro de coração”.


V. Tudo o que é amável

Parece que a melhor tradução seria “tudo o que é agradável”. O termo amável ou agradável sugere tudo o que suscita amor. Há crentes que vivem sofrendo porque alimentam no coração a vingança. Em vez de atraírem para si o amor, atraem a amargura, o ressentimento. 

O escritor da carta aos Hebreus diz: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus; nem haja alguma raiz de amargura que, brotando, vos perturbe, e, por meio dela, muitos sejam contaminados” (Hb 12.14-15).

Os crentes da igreja primitiva eram, sem dúvida alguma, agradáveis: “louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo” (At 2.47).


VI. Tudo o que é de boa fama

Também pode ser “tudo o que é de boa reputação”. Podemos clarear esse princípio com a palavra de Paulo em 1Timóteo 3.7. Ele diz: “é necessário que ele tenha bom testemunho dos de fora, a fim de não cair no opróbrio e no laço do diabo”. Abraão era respeitado entre os povos pagãos por causa de sua postura como “amigo de Deus”. O cristão, nos lábios do próprio Cristo, é “luz do mundo e sal da terra”. Será que a nossa “fama”, na comunidade em que vivemos, dentro e fora da igreja, é boa ou má? Será que os nossos parentes e amigos podem dizer de nós o que a sunamita disse de Eliseu ao seu esposo? “Vejo que este que passa sempre por nós é santo homem de Deus” (2Rs 4.9).


Conclusão

Examinamos até aqui os seis princípios da ética cristã. Agora, Paulo termina a sua doutrinação destacando a excelência do comportamento cristão: “Se há alguma virtude e se algum louvor existe, seja isso o que ocupe o vosso pensamento”. Esses princípios se integram no cômputo dos verdadeiros valores da vida. Pensar nessas coisas significa “tomá-las na devida conta”. Isto é, levar a vida a sério. Se esses princípios são dignos, então tornemo-los parte de nossa vida. 


Encerramos esta lição sugerindo a leitura de Tito 2.12: “Educando-nos para que, renegadas a impiedade e as paixões mundanas, vivamos, no presente século, sensata, justa e piedosamente”. Eis a excelência da vida cristã: vida sensata; justa e piedosa.


Com base no que leu, reflita:

1. Costumes e princípios – quais os meus valores?

2. Dentro e fora da igreja – tudo é a mesma coisa?

3. Estou vivendo a vida cristã de modo excelente?

Doutrina bíblica e ética cristã

Pr. João Arantes Costa 

Estamos começando uma série de lições que enfocam um dos assuntos mais importantes da vida cristã: o comportamento da pessoa salva, dentro e fora da igreja. O estudo ao qual nos propomos nesta revista é a ciência dos deveres do homem, que chamamos ética.

A missão dada por Deus ao homem para que este cumpra na terra é o tema central da ética. Nela são tratadas todas as coisas que se relacionam com a descoberta e o cumprimento dos deveres do homem. Pelo estudo da ética descobrimos a nossa razão de ser; a razão de todas as nossas inteligências e faculdades, e, ainda mais, os princípios que nos devem governar enquanto vivemos.

A doutrina bíblica exige uma ética cristã; a última não sobrevive sem a primeira. Paulo diz: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis de modo digno da vocação a que fostes chamados” (Ef 4.1). Andar de modo digno é a ética; vocação a que fostes chamados é a doutrina.

O que fazemos não pode estar desvinculado do que cremos. A doutrina bíblica mostra nossa posição em Cristo e a ética determina nosso comportamento em Cristo. Com base em nossa doutrina bíblica é que formulamos os deveres que temos em nosso contexto cultural. Vamos observar três aspectos. 

1. Ética individual . A que trata do dever do homem para consigo mesmo.

2. Ética social. A que trata do dever do homem para com o seu próximo.

3. Ética teísta. A que trata do dever do homem para com Deus.


I. Ética individual

Para o cumprimento da sua missão moral é indispensável ao homem manter-se como ser vivo com todos os poderes desenvolvidos na sua integridade. Por isso, o seu principal dever é a conservação dos próprios poderes. Paulo chama a atenção de Timóteo para esse fato, quando diz: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina. Continua nestes deveres; porque, fazendo assim, salvarás tanto a ti mesmo como aos teus ouvintes” (1Tm 4.16). 

Desde o momento em que o homem reconhece sua missão, e que, para cumpri-la, precisa de todos os dons naturais recebidos do Criador, ele tem de admitir que é primordial conservar tais poderes, pelos quais há de realizar sua tarefa neste mundo. Paulo, ao longo das epístolas, enfatiza a necessidade do cristão ter cuidados especiais consigo: “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef 5.15,16).

O ser humano precisa defender-se de três inimigos: a morte, a doença e a pobreza. Precisamos enfrentar corretamente esses três inimigos, que procuram por todos os meios nos cercar e impedir que cumpramos a missão a nós designada. O dever do homem para consigo prende-se à continuação da vida, à conservação da saúde e ao bem-estar socioeconômico.

Para o cristão, a ética individual começa com o autocontrole. Isto é, começa de dentro para fora. No Salmo 37 vamos encontrar os passos necessários desse autocontrole para o bem-estar de cada ser humano.


1. “Confia no Senhor”;

2. “Agrada-te do Senhor”;

3. “Entrega o teu caminho ao Senhor”;

4. “Descansa no Senhor”;

5. “Não te irrites”;

6. “Deixa a ira”;

7. “Abandona o furor”;

8. “Não te impacientes”. A falta de autocontrole “acabará mal”. 

A conservação própria é, portanto, absolutamente indispensável a uma pessoa. Os vícios: cigarro, bebida, droga, sexo livre, jogatina, tão comuns entre o povo do mundo, são condenáveis entre os cristãos.


II. Ética social

A ética social trata dos deveres gerais do homem para com o próximo. O mesmo dever que o homem tem para consigo tem para com o seu semelhante. Visto que a existência contínua da pessoa lhe é absolutamente indispensável no cumprimento da sua missão moral, o grande dever do homem para com o próximo é procurar, por todos os meios lícitos, conservar-lhe o ser com todos os seus direitos. O nosso próximo tem direito à conservação da vida; tem direito ao exercício livre dos seus poderes; tem direito ao governo dos seus bens; tem direito à verdade em todas as suas relações; e, finalmente, tem direito ao acolhimento por um irmão.

Os fariseus perguntaram a Jesus: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Mt 22.36-39).

O primeiro mandamento trata da ética teísta, que é o tema da terceira divisão desta lição, e o segundo mandamento trata da ética social: amar o próximo como a nós mesmos. 

Vejamos como Paulo coloca o assunto: “Nada façais por partidarismo ou vanglória, mas por humildade, considerando cada um os outros superiores a si mesmo. Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.3-4).

Jesus coloca, no segundo mandamento, o amor como o fundamento da ética social. Ninguém consegue conviver bem com o próximo se ele é desprovido do sentimento de amor. No famoso capítulo do amor, Paulo diz o seguinte: “O amor é paciente, é benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co 13.4-8). O amor, como definido nessa passagem bíblica, nada tem a ver com sentimentos ternos e calorosos de afeição. O amor ético não se expressa nas palavras eros ou fileos e, sim, na palavra “ágape”: amor incondicional. A segunda milha da ética social diz o seguinte: “Pelo contrário, se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber; porque, fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça. Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”(Rm 12.20-21).


III. Ética teísta

A ética teísta trata da aplicação dos princípios da lei moral ao procedimento do homem no relacionamento com Deus. Quando observamos a paixão de Cristo, deparamo-nos com duas hastes de madeira cruzadas. A haste vertical representa a relação de Deus com o homem e a haste horizontal representa a relação do homem com o próximo. 

A haste vertical é a ética teísta: os nossos deveres para com Deus. Os dez mandamentos podem ser colocados nessa dimensão. Os quatro primeiros tratam dos deveres para com Deus (ética teísta); os seis mandamentos seguintes tratam dos deveres para com nós mesmos e também para com o próximo – ética individual e social.

A ética teísta consiste numa devoção do homem todo, de tudo quanto ele é e possui, a Deus. De todos os deveres que o homem tem para com Deus, a devoção é o mais elevado, o mais nobre de todos os seus sentimentos. Quando Paulo, em Romanos 12.1 e 2, fala do “culto racional”, ele está falando do homem total em devoção a Deus. A devoção suprema do corpo, intelecto, coração e vontade.

A nossa relação com Deus é a relação-chave em nossa vida, por isso é que dessa relação dependem todas as outras. A pessoa que fica feliz nessa relação, também será em todas as outras de que trata a ética. O único meio pelo qual podemos cumprir os deveres em relação a nós mesmos e em relação ao próximo é o exercício da fidelidade no cumprimento dos deveres para com Deus. Por isso, dizemos que a ética teísta parte da devoção do homem a Deus. Isto é, uma entrega total, plena e irreversível da vida ao Senhor. Jesus disse à multidão juntamente com Seus discípulos: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me” (Mc 8.34).


Conclusão

Temos visto até aqui que a ética cristã não é uma ciência independente, mas parte integral de todas as outras ciências. Cada segmento científico ou profissional tem o seu código de ética. O cristianismo como um segmento da grande sociedade universal tem o seu código de ética que é a Bíblia Sagrada. É nessa visão que Paulo diz a Timóteo: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3.16 e 17). A cada momento temos que tomar decisões com implicações pessoais, sociais e teístas. Temos que avaliar quais os efeitos das nossas ações sobre nós mesmos, sobre os outros e, acima de tudo, sobre o nosso Deus.


Reflita

Estou colocando essas áreas da ética na prática?

1. Ética individual. “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm 14.12).

2. Ética social. “Levai as cargas uns dos outros” (Gl 6.2).

3. Ética teísta. “Não terás outros deuses diante de mim” (Êx 20.3).

Encerramos esta lição com as magníficas palavras de Jesus: “Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt 5.16).